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Mostrando postagens de 2012

Te odeio, logo...

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Te odeio, Logo adquiro uma vontade imensurável de lhe desvendar E como isto torna-se uma tarefa dificultosamente árdua Logo me demonstro demasiadamente interessada em você E como isto torna-se um objetivo central Logo me encontro preocupada com toda essa atenção E como isto torna-se uma frustração ascendente Logo penso que estou apaixonada por você E como isto torna-se uma questão de honra Logo te odeio intensamente E como isto torna-se uma mentira deslavada Logo acabam-se os argumentos. Gabriela Castro Lima Aguiar

Júlio

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Caminhava em passos rápidos em direção ao trabalho, se demorasse mais cinco minutos arrastando-se sobre aquela calçada chegaria atrasado. Odiava isso! Aliás detestava qualquer coisa que lhe fugisse do controle, mesmo que fosse horário ou um assunto banal do dia-a-dia. Passara muito tempo estudando de tudo um pouco. Gostava de saber sobre o mundo e quando algo lhe escapava ficava desesperadamente obcecado com o tema. A única coisa com a qual não se importava era o que chamavam de amor, um negócio abstrato que alguns poucos tolos teimavam em dizer que existia. Abriu a porta do seu escritório no exato segundo em que o ponteiro marcava oito horas. Respirou fundo, não se atrasara. Sentou na sua grande mesa de madeira, analisou alguns papéis que estavam espalhados sobre ela, discou alguns poucos números para um ramal já conhecido e pediu um café. Havia passado a noite em claro, com aqueles seus pesadelos horrorosos que remetiam ao passado, não gostava nem de lembrar. Fora traumático,

Olhos de jabuticaba

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Bate na estima de forçada de cidadania Numa estima forçada de estúpida alegria Marchando em falsos passos Mãos cretinas inteirando amassos Olhos pungentes focados em delírio Trem veloz em ferrovia sem trilho Soluços fincados e esparsos de coerência Uma rua inteira de frágil cadência Gestos do nervosismo oriundos Caminhando tortos outros vagabundos Pedras sem cor estampadas no chão Pueril, baronil, tiros ferozes de canhão Os olhos sobressaltaram a jabuticaba Doce, suculenta e que em vão se acaba Cansou-se daquela infeliz guerra Seria em paz num pedaço de terra Gabriela Castro Lima Aguiar

Sangrando

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Coração sangrando por um amor fraterno Há muito ausente, sem tempo no presente Coração sangrando por um amor doentio Há muito instalado, sem tempo descoberto Coração sangrando por um amor inocente Há muito conquistado, sem tempo revelado Coração sangrando por um amor descontente Há muito dilacerado, sem tempo ousado Coração sangrando por um amor tardio Há muito rebuscado, sem tempo retornado Coração sangrando por um amor distinto Há muito mencionado, sem tempo ocupado Coração sangrando por um amor bonito Há muito escrito, sem tempo covarde Coração sangrando por um amor qualquer Há muito existente, sem tempo novamente Gabriela Castro Lima Aguiar

Num parque com flores, vida de amores

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Seus olhos fecharam sobre a grama verde, a turva sombra das árvores e o deslumbrante azul do céu, com intensas nuvens brancas. Era um momento qualquer de reflexão, ou simplesmente de descanso. Um momento para descarregar todos os conhecimentos adquiridos e todas as frustrações de uma pessoa comum. Ouvia o som do silêncio, mesclado com o canto dos passarinhos e uma vez ou outra, os risinhos de alguns poucos que ali passavam. Não se incomodou. O ar fresco que respirava e a calmaria do lugar eram reconfortantes para qualquer incômodo. E, claro, algumas vezes tinham as vozes da sua cabeça, um pouco mais silenciosas, mas certamente as mais impactantes de todo o cenário. As vozes foram cessando, os olhos ficando mais pesados e então ela pulou para algum estágio mais profundo do sono. Uma porta se abriu, era possível sentir o aroma de flores. Havia um vento fresco, debaixo de um sol forte que brilhava no céu. Era tudo tão agradável. Ela nem percebera que por boa parte do tempo esteve

Respirando...

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Domada pela súbita vontade, entregou-se Fez do pranto um amargo rio E na partida do dia afogou-se Nas vultuosas águas que a encobriam Era necessário muito esforço para retirá-la Não serviam sufocantes palavras de anseio Tampouco adiantava força-la Estava submersa e não pretendia sair As águas não eram turvas Visões de desalojados sentimentos Que no momento tinham pouco afinco Esperou o surgimento de uma luz Algo majestoso a retirasse de lá Enquanto isso, aprendeu a respirar na água Gabriela  Castro Lima Aguiar

Dom

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Ninguém  é do mesmo jeito Uns tem muito, outros quase sem defeito Cada ser é provido de um dom Artes, cálculos, letras ou som Aos artistas são concebidos a paciência Apesar de toda a indulgência Que uma arte necessita para existir Mas é aos poucos que ela vai se exibir Aos que nos números se deliciam Dados são regras que irão e seriam Completares e usais para cada caso Talvez meça a profundidade ou seja raso Aos poetas é exposta toda  a dor Os infortúnios e riquezas do amor Os que amam as letras sentem mais Do que outrem julga incapaz Aos músicos existe a sensibilidade Cada nota é composta sem igualdade Um simples assobio torna-se melodia E a composição o enredo do dia Todos são beneficiados por algo especial Embalados de forma sutil ou genial Cabe a cada um demonstrar seu talento Embora não seja necessário ser tão atento Gabriela Castro Lima Aguiar

Pré-julgando atenciosamente

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Mexia apenas os olhos para direita. Sinal de que pensava furtivamente em algo que não deveria ter sido notado por ninguém. Depois de um tempo, quando não havia mais para onde ir, eles se deslocavam lentamente para esquerda, revendo tudo o que foi planejado. Era inadmissível ter falhas nesse sistema de avaliação. Talvez fosse um pouco imprecisa, mas no final das contas, sempre pronunciava as mesmas palavras, um “eu sabia” com o tom de maior desdém ou felicidade do mundo. Ela tinha essa mania, que algumas pessoas julgavam muito feia, mas nada era feito para evitar. Toda vez que conhecia alguém novo ou que chamasse sua atenção, lá estava ela, traçando uma linha de raciocíonio sobre a vida da pessoa. Prestava bastante atenção, nos gestos, na forma de olhar, de falar e no sorriso. E por essas características obtinha o perfil do indivíduo, sem ao menos conhecê-lo direito. Uma diversão que ocupava seu tempo ocioso e uma distração para seus problemas mais eminentes. Algumas, não rara

De mãos dadas

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De braços entrelaçados por esse vertiginoso caminho As mãos parecem inerentes à altura do solo Os passos não são simétricos, mas acompanham-se Os rostos gélidos se aquecem num sorriso E nessa caminhada dois seguem uma direção Há esboços de paixão, de almas afins Que se encontram no mais sutil choque de dedos Nesse momento, a brisa vem soprar suas faces Por dentro há uma revolução acontecendo Alguma coisa queima impiedosamente Mas não é ruim, esse fogo poderia nunca cessar Seria bom que essa queimadura ardesse sempre Havia poucos sons naquele caminho Contudo, com atenção, percebe-se a intensidade E olhando atentamente, a beleza do momento Eram só jovens passeando de mãos dadas. Gabriela Castro Lima Aguiar

Meu companheiro, travesseiro.

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E de imaginar um mundo feliz meus sonhos estão povoados, à noite quando finalmente encontro meu companheiro, posso balancear tudo o que foi e aquilo que poderia ter sido. Tenho um tempo incalculável para decifrar ou compor histórias corriqueiras, daquelas que ninguém se perceberia a beleza, por estarem ocupados demais. Então afundo a cabeça no meu travesseiro. Algumas vezes o dia me traz situações angustiantes e a minha inquietação percorrer mordaz noite adentro. Viro-me sem ritmo algum no coitado companheiro, que aos poucos vai me acalmando, a minha mente se esvazia de preocupações e aos poucos o sono vem chegando. Transporta-me então para outra dimensão muito desejada. Há dias em que a tristeza persiste em seguir meus passos e caminhar ao meu lado. Neles, inundo meu pequeno companheiro com lágrimas que por hora são hostis, em outras febris. Ele sempre ouve todo o meu pranto, até que tenham cessado todas as minhas lamentações. Sutilmente me acalenta e assim adormeço, regress

Não escorrega

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Eu conheci um homem que tem ideias geniais Que por sua cidade fez obras legais Eu conheci um homem que gosta de trabalhar Que não tem medo de reclamar seus direitos e lutar Eu conheci um homem que fala a verdade Que é honesto com os seus e tem muita lealdade Eu conheci um homem que gosta de construir Que do que não é seu, não vai usufruir Eu conheci um homem que tem experiência Não precisam ser letras, exatas ou ciência Eu conheci um homem que entende o que faz Que pelo seu povo só anseia a paz Eu conheci um homem que tem uns sonhos bonitos Ele quer fazer tudo pelo seu povo, não os quer aflitos Eu conheci um homem que facilmente não se entrega E ainda bem que ele não escorrega... Gabriela Castro Lima Aguiar

Mulheres, assim funcionamos...

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E então você tem vontade de ir dormir e só acordar quando alguém tiver algo bom para lhe contar. Você tem a doce ilusão de que quando despertar o mundo vai ser mais bonito, as pessoas vão estar de braços abertos para lhe receber e tudo vai dar certo. Depois disso, você até consegue pegar no sono. E ao levantar, que decepção! O mundo continua o mesmo. Você quer, e muito, enfiar novamente a cara no travesseiro, voltar pros seus sonhos que são seguros, e se não, pelo menos não são reais. Pode sonhar com qualquer coisa sem nexo, ou que te deixe com medo, tanto faz, não é de verdade. Mas ao abrir os olhos tudo é assustador, entediante, e o pior, não tem beliscão que faça passar. Alguém ou algum motivo qualquer, te obriga a se levantar, mesmo que seja a sua barriga, roncando de fome. Você se levanta de sopetão, com uma raiva do tamanho do mundo, que nem a água fria do chuveiro é capaz de esfriar sua cabeça quente. Faz cara feia pro espelho. E que merda! Não adianta mesmo, ta tudo d

Uma oração

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De que servem minhas palavras, se não se acendem velas É como um barco em alto-mar, a paisana, pintado em telas De que serve minha sufocante, tola e inútil vontade Se no final há quase tudo, menos vestígios de bondade Não me interesso por ricos devaneios ou sábias lições Gosto daquelas sutis palavras, que tocam os corações Não me interesso por prédios, nem ruas de asfalto É mais bonito ver passarinho cantando, voando no alto Eu procuro andar com passos longos, confiantes de fé Acredito em Deus, em espíritos de luz, em anjos até Não quero essa triste rotina de quem descrê na vida É tão surpreendente, e mesmo triste, faz-se colorida E então vou terminando minha oração devagarzinho Fiz sem pressa, com sinceridade e traços de carinho E aqui por fim agradeço a tudo que Deus tem me dado Inclusive, essa mania de escrever que me é de bom grado Assim converso um pouquinho todos os dias com o Pai Falo sobre o que aconteceu, e se ele quiser,

Pés sobrevoando a imensidão dos sonhos meus

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Sonhei que voava Sem as asas de um passarinho, mas planava Subia devagarzinho em direção ao céu Contemplava o azul e o branco de papel Puxava os ventos e os mares para mim Como o passeio do beija- flor sobre o jasmim E eu tímido olhava, as árvores se balançando Sob copas e espadas se amando A calma entorpecia minha alma Olhava para o mundo que pedia calma E então fugi sobrevoando a agonia Dessa Terra que é tão linda e fria Numa curva uma doce jornada Se abro os olhos a noite vira dia Envolvendo meu rosto adornado Pela leve calmaria    Desperto para vida inquieto E me descubro abaixo de um teto Sem um céu ao fundo Me sinto triste, imundo Perdido no sorriso triste Encoberto por camadas de alguém Sei que vivo num mundo que existe Dos que pensam muito mais do que além E no descompasso infeliz do dia Espero com sombras de nostalgia A linda e poética noite chegar Para aos meus doces sonhos retornar Pois com vocês, há

Samba da bondade

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Eu gosto é de sambar De acompanhar as músicas e dançar Eu sou orgulhosamente do Piauí E muito do que vivi, aprendi aqui E não me importo com meu diploma de direito Eu gosto é de todo mundo feliz do meu jeito Eu tenho em mente sempre algum refrão Que passo para os meus netos como lição Comigo o Português é bem falado Venha ver, eu lhe mostro meu rebolado Sei escrever com palavras bonitas Para desviar algumas conversas aflitas Dizem que eu sou uma senhora bonita Gosto de usar batom vermelho e fita Meu sorriso é uma explosão Pra que segurar a minha emoção? E com fé eu vou seguindo E minha vida repartindo E me mostro de qualquer forma A mim, escolheram Norma. Gabriela Castro Lima Aguiar

Em busca de si

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Acordou inundando por uma manhã tempestuosa. Sem saber quem era, o que lhe pertencia e o que tampouco lhe cabia. De si só sabia o nome e algumas conquistas realizadas ao longo do percurso. Mas agora estava confuso, um pouco perdido talvez e então dentro dele brotou o desejo de se conhecer, aprender mais sobre a sua história, a sua origem e seu passado, que em sua mente era uma vaga e inconsistente lembrança.             Já havia circulado metade do mundo, mas não era em nenhuma parte dela que se situava sua origem. E num impulso resolveu buscar suas raízes mais profundas, voltaria para a cidade onde fora concebido. Os riscos eram calculados, trabalho arranjaria fácil devido ao seu extenso currículo, o problema seria enfrentar sua família... Eles o entenderiam, cedo ou tarde, bom seria se fosse logo. Deixar os amigos também o incomodava, mas era necessário, no momento era realmente necessário.             Partiu na madrugada enquanto a cidade inteira dormia. Fora julgado e con