Num parque com flores, vida de amores


Seus olhos fecharam sobre a grama verde, a turva sombra das árvores e o deslumbrante azul do céu, com intensas nuvens brancas. Era um momento qualquer de reflexão, ou simplesmente de descanso. Um momento para descarregar todos os conhecimentos adquiridos e todas as frustrações de uma pessoa comum.
Ouvia o som do silêncio, mesclado com o canto dos passarinhos e uma vez ou outra, os risinhos de alguns poucos que ali passavam. Não se incomodou. O ar fresco que respirava e a calmaria do lugar eram reconfortantes para qualquer incômodo. E, claro, algumas vezes tinham as vozes da sua cabeça, um pouco mais silenciosas, mas certamente as mais impactantes de todo o cenário.
As vozes foram cessando, os olhos ficando mais pesados e então ela pulou para algum estágio mais profundo do sono. Uma porta se abriu, era possível sentir o aroma de flores. Havia um vento fresco, debaixo de um sol forte que brilhava no céu. Era tudo tão agradável. Ela nem percebera que por boa parte do tempo esteve sozinha no sonho. Estava tão encantada com as sensações, que não teve tempo para meros detalhes.
Sua distração se quebrou numa fração de segundos. Alguma das flores havia lhe despertado algum sentimento inesperado, mas bem conhecido. Resquícios de ternura e saudade que percorrera há um longo prazo. Ouviu um barulho, assustou-se. Eram pessoas dizendo que havia alguma coisa ali, algo mais. Sempre houve algo mais, mas estava distraída para perceber. Ela se escondeu, debaixo de alguma ponte qualquer até que todos fossem embora.
O silêncio veio novamente. Pôde então sair. Detestava que ficassem lhe perturbando com assuntos que não pretendia pensar, não quando lhe afetavam de uma forma desmascarada. Outro susto, porém foi precedido por um sorriso. Seus olhos brilharam, a felicidade estampou-se no sorriso caramelo, com alguns confeites azuis. Poderia ficar em paz agora. Eram traços conhecidos e ansiados desesperadamente para um conforto pleno.
Conversaram por muito tempo, tanto tempo quanto dura uma vida ou assim queriam que fosse. Não se utilizavam palavras, eram frias demais, incapazes de expressar qualquer afeição tão profunda. Sentiam todo o momento, como uma brisa de suaves furacões e borboletas no estômago. É, talvez o mundo devesse parar de girar ali. A convicção de mais fé era impossível. Crer nas pessoas, crer no amor. As mãos entrelaçaram-se, um encontro de céus.
Alguém gritou ao longe, seus olhos abriram. Estava novamente sobre a grama, com pessoas e passarinhos. Mas a sensação das flores não passaria nunca.

Gabriela Castro Lima Aguiar

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