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Mostrando postagens de novembro, 2012

Te odeio, logo...

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Te odeio, Logo adquiro uma vontade imensurável de lhe desvendar E como isto torna-se uma tarefa dificultosamente árdua Logo me demonstro demasiadamente interessada em você E como isto torna-se um objetivo central Logo me encontro preocupada com toda essa atenção E como isto torna-se uma frustração ascendente Logo penso que estou apaixonada por você E como isto torna-se uma questão de honra Logo te odeio intensamente E como isto torna-se uma mentira deslavada Logo acabam-se os argumentos. Gabriela Castro Lima Aguiar

Júlio

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Caminhava em passos rápidos em direção ao trabalho, se demorasse mais cinco minutos arrastando-se sobre aquela calçada chegaria atrasado. Odiava isso! Aliás detestava qualquer coisa que lhe fugisse do controle, mesmo que fosse horário ou um assunto banal do dia-a-dia. Passara muito tempo estudando de tudo um pouco. Gostava de saber sobre o mundo e quando algo lhe escapava ficava desesperadamente obcecado com o tema. A única coisa com a qual não se importava era o que chamavam de amor, um negócio abstrato que alguns poucos tolos teimavam em dizer que existia. Abriu a porta do seu escritório no exato segundo em que o ponteiro marcava oito horas. Respirou fundo, não se atrasara. Sentou na sua grande mesa de madeira, analisou alguns papéis que estavam espalhados sobre ela, discou alguns poucos números para um ramal já conhecido e pediu um café. Havia passado a noite em claro, com aqueles seus pesadelos horrorosos que remetiam ao passado, não gostava nem de lembrar. Fora traumático,

Olhos de jabuticaba

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Bate na estima de forçada de cidadania Numa estima forçada de estúpida alegria Marchando em falsos passos Mãos cretinas inteirando amassos Olhos pungentes focados em delírio Trem veloz em ferrovia sem trilho Soluços fincados e esparsos de coerência Uma rua inteira de frágil cadência Gestos do nervosismo oriundos Caminhando tortos outros vagabundos Pedras sem cor estampadas no chão Pueril, baronil, tiros ferozes de canhão Os olhos sobressaltaram a jabuticaba Doce, suculenta e que em vão se acaba Cansou-se daquela infeliz guerra Seria em paz num pedaço de terra Gabriela Castro Lima Aguiar

Sangrando

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Coração sangrando por um amor fraterno Há muito ausente, sem tempo no presente Coração sangrando por um amor doentio Há muito instalado, sem tempo descoberto Coração sangrando por um amor inocente Há muito conquistado, sem tempo revelado Coração sangrando por um amor descontente Há muito dilacerado, sem tempo ousado Coração sangrando por um amor tardio Há muito rebuscado, sem tempo retornado Coração sangrando por um amor distinto Há muito mencionado, sem tempo ocupado Coração sangrando por um amor bonito Há muito escrito, sem tempo covarde Coração sangrando por um amor qualquer Há muito existente, sem tempo novamente Gabriela Castro Lima Aguiar

Num parque com flores, vida de amores

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Seus olhos fecharam sobre a grama verde, a turva sombra das árvores e o deslumbrante azul do céu, com intensas nuvens brancas. Era um momento qualquer de reflexão, ou simplesmente de descanso. Um momento para descarregar todos os conhecimentos adquiridos e todas as frustrações de uma pessoa comum. Ouvia o som do silêncio, mesclado com o canto dos passarinhos e uma vez ou outra, os risinhos de alguns poucos que ali passavam. Não se incomodou. O ar fresco que respirava e a calmaria do lugar eram reconfortantes para qualquer incômodo. E, claro, algumas vezes tinham as vozes da sua cabeça, um pouco mais silenciosas, mas certamente as mais impactantes de todo o cenário. As vozes foram cessando, os olhos ficando mais pesados e então ela pulou para algum estágio mais profundo do sono. Uma porta se abriu, era possível sentir o aroma de flores. Havia um vento fresco, debaixo de um sol forte que brilhava no céu. Era tudo tão agradável. Ela nem percebera que por boa parte do tempo esteve

Respirando...

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Domada pela súbita vontade, entregou-se Fez do pranto um amargo rio E na partida do dia afogou-se Nas vultuosas águas que a encobriam Era necessário muito esforço para retirá-la Não serviam sufocantes palavras de anseio Tampouco adiantava força-la Estava submersa e não pretendia sair As águas não eram turvas Visões de desalojados sentimentos Que no momento tinham pouco afinco Esperou o surgimento de uma luz Algo majestoso a retirasse de lá Enquanto isso, aprendeu a respirar na água Gabriela  Castro Lima Aguiar