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Mostrando postagens de abril, 2015

Carta ao (mau) amor

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Cansei de chamar-te, querido. Cansei de dar-te todos estes nomes carinhosos que outrora fazia gosto em falar. Cansei de bem querer-te. Não me preocupo mais em pronunciar-te como o meu único e indiscutível amor. Durante algum tempo fostes meu e de mais ninguém. Era um sentimento de posse, desses que o amor nos permite ter. Não que não fosse repartido, mas a sensação era de que eras de fato meu. Porém o sentimento pertencia somente a mim. É impossível doar-se sem receber um mísero tostão de carinho em troca. Acreditei em palavras frias de uma mente vazia sem um coração com veias pulsantes. Pensei que poderia lhe trazer a vida, mas ao invés disto, foste tu que roubastes a minha. Não tiveste nem a consideração de absolver uma ré inocente do teu julgamento falho. Cansei de esperar-te para ser feliz. Buscarei a minha felicidade e a encontrei sozinha, sem a ajuda de mais ninguém. É, de fato, bem melhor quando se é compartilhada, mas neste caso cansei de mendigar a tua atenção. Prec

Álvaro Vince, sem roteiros (Parte I)

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                           Ele estava em algum lugar do mundo bebendo o seu café. A fumaça fina saía pelas bordas da xícara branca e perdia-se no ar gelado. Não importava em que país estivesse sempre tomava café todos os dias ao anoitecer, mesmo que isso às vezes fosse muito difícil.             Tinha o péssimo hábito de pensar. Pensar sobre tudo, ele dizia. Até sobre a longa jornada de algumas formiguinhas ao subirem a parede do quarto. Pensava sobre o ócio, refletia sobre o trabalho árduo, julgava os descrédulos e abominava os otimistas. Era tudo uma questão racional. E pensar, era a qualidade ímpar de um ser racional.             Pousou a xícara sobre o pires delicado e passou a observar a paisagem lá fora. Era inverno. Tudo estava cinza e branco. Tons melancólicos, ele ponderou, dariam uma boa inspiração para um filme de suspense ou para um drama. Pegou seu lápis e rabiscou alguma coisa num bloco de folhas brancas.             Roteiristas se inspiravam em coisas

Pra terminar essa canção

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Estava olhando meus recados passados Costurando os meus retalhos Que você nunca se quer notou Era pura indiferença essa ausência de pudor Os teus escândalos mais irritantes Sem promessas nenhuma, sem algum valor As estrelas sussurravam ao meu ouvido Que tudo aquilo não fazia sentido Tanta carência da boca pra fora Tanta mentira disfarçada de contos de fadas Eu acreditei da melhor forma possível Transformei meus sonhos num lago invisível Por que meu Deus essa roda de hipocrisia? De gente que torna as verdades frias Eu só queria um pouco mais de melodia Uma forma mais bonita de fazer uma canção Seria pedir muito por um pouco mais de compreensão Mendigar centavos de uma fatia de carinho Os meus recados passados agora estão surrados Meu coração já não caminha pelo mesmo destino Mas ainda me importo com rios passados E quem é você pra falar do meu choro descuidado? De que forma isso te traz algum grado? Escute mais os conselhos da razão

A curta história de Relógio

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            Relógio era solitário e triste. Não gostava de desempenhar a função para qual fora designado. As pessoas sempre viam o seu badalar com ânsia ou aflição. Nunca prestavam atenção no que ele realmente era.             Estava pendurado naquela parede branca e fria há mais tempo do que conseguiria se lembrar. E em todo esse “tempo” não vira nenhum sorriso sincero, mas presenciou muitos dedos nervosos se cruzando e algumas lágrimas sendo derramadas. Ele sabia que não era sua culpa, se pudesse, ajudaria...             As pessoas costumavam reclamar que ele poderia passar mais depressa ou simplesmente voltar o tempo. Mas Relógio não tinha o poder de fazer isso. Uma vez ele até tentou... O máximo que conseguiu foi parar seus ponteiros, entretanto, nada ao seu redor estagnou. Ele é que foi sozinho passar duas semanas no conserto.             Relógio ficava inconformado porque as pessoas não viam que ele podia marcar suas melhores alegrias e, com algum tempo, curar as