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Ensaio sobre a felicidade

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            Dispa-se de todos os números e projetos que você fez antes de ler esse texto. Porque a felicidade não exige muito além de simplicidade, ou talvez isso seja muito.             A gente acorda todo dia com uma série de tarefas para cumprir e mais outro tanto imenso de obrigações. Tudo isso em prol do que julgamos necessário para termos algo no futuro que nos torne felizes. Acontece que a felicidade exige o presente.             Ela está por aí, desfilando o tempo inteiro, vagando de maneira tão simples que muitas vezes somos incapazes de perceber. Porque a nossa cabeça anda ocupada demais, preocupada demais, triste demais com coisas que nem tem tanta importância assim.             A felicidade fica gritando nos pequenos momentos do dia a dia para que nós possamos ouvi-la. No sorriso de alguém, no carinho em um animal de estimação, nas gotas de chuva, na música preferida ou numa simples troca de olhares.             Ela está sempre no presente, mas a gente anda tão

Não seria não

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Não seria não Aos 40 anos, um rosto sério Enlaçado com cicatrizes do tempo Outrora não muito gentil Erguendo sob o nariz, óculos quadrados Aos 20 anos, com um sorriso sincero Sem preocupações constantes Num ideal arbitrário da vida Com sonhos bonitos do futuro brilhante Aos 40 anos, num instante simples Lavando a vida devagar Perfazendo cálculos extensos Sem aspiração para a poesia Aos 20 anos, com toda a sensibilidade Num intrínseco de vaidades Escrevendo notáveis poemas Preenchendo espaços incalculáveis Aos 40 anos, um olhar severo observava Numa barreira impenetrável de concreto Sonhos falhos e memórias gastas Ausência absurda de afeto Aos 20 anos, estendendo sua mão Na compreensão de defeitos de outrem Vivendo num mundo pequeno Restrito demais para alçar voo Aos 40 anos, um senhor temido Com a voz forte e vibrante No charme que a juventude não perdera Tornara-se frio e triste, uma pena Aos 20 anos, r

Álvaro Vince, sem roteiros - Parte VI

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Seus olhos estavam vidrados no horizonte. Ela tinha plena consciência de que estava novamente exigindo demais de si, mas não conseguia parar. Continuava a traçar metas e fazer cálculos minuciosos dentro da cabeça. A vista era um emaranhado de cinzas... Prédios, tempo fechado, pessoas apressadas e mau humoradas. Tamborilou os dedos três vezes na grande mesa de vidro. Anotou algumas poucas observações. Sentia que aquele negócio iria fluir, como todos os outros que havia administrado, mas não estava tão disposta a tomar as rédeas dele. Sentia-se cansada. A palavra exaustão descreveria melhor.  Esfregou os dedos sobre as têmporas fechadas e tentou lembrar-se onde havia guardado seus remédios para a dor de cabeça. O médico havia lhe receitado centenas deles, mas alertou que nenhum faria tanto efeito quanto alguns dias de folga. Ela sorriu laconicamente. Nem se lembrava qual fora a última vez que tirara férias. Talvez fosse mesmo o momento certo para isso. Para onde iria? Passav