Querido diário,
Há
quanto tempo não lhe escrevo? Provavelmente desde que era criança. Hoje resolvi
voltar a contar coisas decifráveis para um caderninho, o qual espero que
ninguém leia. Antes o escondia nos lugares mais difíceis possíveis, debaixo do
colchão, no fundo da gaveta ou dentro de um livro bem grande. Afinal, meus
maiores medos deveriam ficar bem guardados para que ninguém soubesse o pavor
que tinha de ficar sozinha no escuro.
Não
posso esquecer também que discorria para falar das minhas paixões, por pessoas,
coisas e algum príncipe inexistente. Pois bem, a cada dia descubro novas coisas
das quais gosto e as vezes esqueço algumas que antes amava. O tão sonhado
príncipe talvez tenha mudado um pouco. Ele não tem cavalo branco, nem é alheio
a sua própria vontade. Foram adicionados a ele uma dosagem uniforme de
realidade e uma quantidade de ironias e sorrisos.
Quanto
aos meus sonhos ainda continuam os mesmos, com alguns acréscimos e uma
quantidade amena de cortes. Nada além do necessário para que minhas asas possam
alcançar voo. Sim, sim, todos aqueles maluquinhos mesmo, a gente cresce, e muda
algumas concepções. Conhece um mundo mais vasto do que o castelo. Porém, nossos
ideais e ambições continuam os mesmos.
Não
posso me esquecer de dizer que ainda falo sozinha e rio sem motivo algum. Às
vezes agora também choro sozinha. Algumas pessoas dizem que é uma tal de TPM,
mas eu não definiria bem assim. É complicado usar definições tão exatas para
sentimentos, ainda mais quando nem você consegue explicar.
A
minha velha indecisão continua aqui, mas hoje é mais controlada. Tá certo,
confesso, até agora não consigo escolher minha cor preferida. Gosto tanto do
azul, do rosa, do verde. Mas o vermelho, o preto, o branco, o roxo e o amarelo
são igualmente interessantes, não consigo excluí-los assim só por uma questão
de ter algo preferido. É só que... Ah, deixa para lá!
Vamos
a outro assunto. Continuo escrevendo aquelas historinhas que só existem na
minha cabeça. Dou um formato ao decorrer e ao desfecho de cada uma delas, além
de organizar a personalidade de cada pessoa. Hoje, infelizmente, é difícil que
eu escreva cartinhas, porque... Não, não há um porquê que me dê contentamento
quanto a isso. Não é porque os outros não o fazem que eu devo abandonar meus
antigos hábitos. A culpa é minha mesmo. Acho que posso mencionar também que
aprendi novas palavras e contextos para transformar em rimas.
Antes
eu lia muitos livrinhos sobre princesas, hoje é mais complicado. Não que eu
tenha esquecido a Aurora, a Anastásia, a Bela, a Ariel e tantas outras. Mas
conheci novas leituras sobre reinos reais e personagens que não usam sapatilhas
de cristal. E percebi que eles são perfeitamente capazes de ter lindas
histórias para contar, mesmo que em alguns casos os finais não sejam felizes
para sempre. Desculpem-me também Vermelha Rosa e o Rumpelstiltskin,
que, aliás, até hoje não consigo pronunciar esse nome direito.
É
interessante, Querido Diário, que se lembrando de tudo e comparando com a
atualidade a gente percebe o quanto mudou e quanto de nossa infância ficou
marcado. Aquelas tatuagens que ninguém além de você consegue enxergar. A gente
ri das coisas engraçadas e sente saudade do tempo que se foi. Não que esse novo
seja ruim, mas quando éramos pequenos a vida era mais simples e nossos castelos
mais fortes.
Gabriela Castro Lima Aguiar
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