Nas ondas do tempo
Tinham 15. Pontualmente 15.
Aquela idade em que o mundo parece transbordar de novas emoções e que as
pessoas pensam que são maduras o suficiente. Se conheceram num barzinho
qualquer, nesse ano era modinha entre os adolescentes. Mas nem eles se lembram
ao certo como foi, ou melhor, não lembram de nada antes disso. Não, não era
álcool. Foi uma espécie de hipnose que aconteceu quando eles se olharam. E
desse momento as recordações são bastante nítidas.
Ela estava com um daqueles
vestidinhos, em uma transição de flores para celebrar a infância e pouco
comprimento, para enfatizar a juventude, o poder de se sentir mulher. Tinha os
cabelos compridos, em um tom castanho escuro, que caiam retos sobre suas
costas. E carregava um sorriso deslumbrante, talvez isso tenha sido o que mais
prendeu a atenção do menino, sem contar na profundidade dos olhos também
castanhos.
Ele era portador de grandes olhos
verdes que não eram tão profundos, mas eram intensos como o sol da Bahia.
Vestia um jeans corretamente folgado e uma camisa verde com dois botões na gola.
Era mais prático vestir por cima e assim não despenteava seu cabelo negro, curto
e teimoso, que não queria se comportar num pequeno topete. E só gel parecia não
domar a fera.
Para os adolescentes de 15 era
comum mandarem recadinhos por amigos. Ele assim o fez, porém não sem ter
reunido todas a sua coragem antes. Quando a mensagem foi enviada arrependeu-se
no mesmo instante. Era obviamente claro que a menina diria não. E graças a Deus
estava errado, ele não acreditou no “sim” que recebera. Assim como não
acreditou um mês depois na mesma resposta ao seu pedido de namoro.
Quando estavam juntos
esqueciam-se do mundo, uma frase bem clichê para descrever um casal, mas que
era de fato como se sentiam. Não precisavam de palavras gritadas ao vento ou de
grandes presentes, o que era dito baixinho no ouvido soava mais verdadeiro e um
abraço valia mais do que qualquer bem material. Era tudo mágica, se pareciam com
personagens de novelas, num amor que só existia para eles e por eles.
Porém como em tramas fictícias
algo meramente infantil fez com que se afastassem. E os dizeres que transmitiam
festividades, agora transtornados inscreviam-se uma raiva cruel e meticulosa. A
mágoa ocupou inteiramente o lugar da paixão. Para ambos, tudo não figurou mais
do que uma tola ilusão, distantes permaneceram e seus corações calaram,
sufocaram por um amargo tempo.
Depois de quase cinco anos, se
encontraram novamente por obra do acaso. Como o destino é terrível! E aqueles
que juravam estar curados há muito, descobriram que ainda padeciam deste mal.
Tentaram ser educados e só isso, pois eram pessoas civilizadas e “adultas”. Mas
o coração bateu mais forte e as conversas voltaram a fluir como antes, numa
ânsia pelo próximo reencontro, apenas como bons amigos, lógico.
Ela tinha medo de se
envolver e machucar-se de novo. Ele tinha medo de que ela o fizesse sofrer
demasiadamente como outrora fizera. E assim continuaram reféns de pensamentos e
lembranças lindas, que foram ofuscados pelo temor de repetir o erro e aumentar
uma ferida.
Talvez uma segunda chance lhes
tenha sido dada. Mas não poderiam arriscar. E assim perduraram-se numa tortura
diária, do tentar novamente reconstruir um relacionamento, porém sem agir.
Ainda era cedo para qualquer ação. E de uma coisa eles sabiam: gostavam-se na
mesma intensidade que anteriormente e se fosse possível ainda mais. Felizmente
essa história não acaba aqui, mas o final fica por conta do tempo, da paciência
e certamente do amor.
Gabriela Castro Lima Aguiar
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