Ser música
Os pés se moviam freneticamente ao ritmo
da dança. Seus quadris balançavam devagar de um lado para o outro, numa dança
sensual e os braços bailavam espontaneamente no ar. Estava livre. Sentia-se
livre! A dança era o único meio que encontrava para expressar toda a paixão que
havia dentro de si, toda a explosão, mesmo que não fosse por ninguém. Mesmo que
fosse por alguém que nunca existiria.
Seu
vestido com as bainhas vermelhas, na altura do tornozelo rodava por todo o
salão. Segurava-o com tanta naturalidade que os outros que viam pensavam ter
sido feito perfeitamente para aquilo. Assim como seus sapatos pretos baixos que
pisavam no chão sem deixar nenhuma marca. Tudo parecia combinar com ela, a
música, o ambiente, a dança, a flor branca que estava no cabelo castanho.
Seus
olhos estavam totalmente concentrados no mundo da lua. Não notara ninguém ao
seu redor, nem queria. Cansara-se de pessoas e todas as expectativas que
existiam dentro de cada uma delas, inclusive das suas próprias. Seus
pensamentos viajavam numa estrada sem volta e na contramão do tempo.
A
música parou e um rapaz a convidou para a próxima dança. Ele era alto e esguio,
com os cabelos negros cortados bem curtos e olhos da mesma cor, muito intensos.
Ela teve a certeza de que ele era um bom observador, por isso não perdeu tempo
com conversas superficiais. Nem queria conversar, só dançar. Aceitou o convite.
Os
passos de ambos moveram-se compassadamente. Tinham uma boa simetria. Pareciam
já ter ensaiado a dança previamente, quando na verdade nunca tinham se visto.
Ela gostou daquilo, sorriu. Ele percebeu, também sorriu. Os corpos
encontravam-se e de distanciavam no tempo certo. As mãos não se soltavam em
momento algum. Não queriam deixar ir embora.
Ele
notou todos os sorrisos, todos os olhares e todo o rubor dela. Era de fato um
bom observador. Principalmente quando queria muito algo e desde que a vira no
começo da noite, não pensara em outra coisa. Era algo no seu jeito, na maneira
como ela se movia, mesmo estando com a mente em qualquer outro lugar, menos
ali. Quis trazê-la de volta e por alguns momentos obteve êxito.
A
música acabou. Ela sorriu para ele em agradecimento e sem se despedir sumiu no
meio das outras pessoas. Ele não entendeu. Ficou pensando no que poderia ter
feito de errado e como ela mudara assim tão depressa. Ainda procurou-a, mas não
a encontrou em lugar nenhum. Não estava mais lá.
A
moça trocou de roupa, vestia agora toda a sua sina. Gostara de dançar com o
rapaz, mas sabia que não duraria mais do que algumas músicas. Não seria de mais
ninguém, só dela mesma. Tinha bons motivos e já se conformara, por isso não se
entristecia e nem se alegrara. Não sentia mais nada, além da música.
Gabriela Castro Lima Aguiar
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