Xeque mate





Olhou para o relógio no pulso. Estava impaciente e por isso batia seus pés compassadamente no chão. Mais de 15 minutos de atraso, seria possível que todas as mulheres fossem mesmo desorganizadas quanto ao horário? Ou era apenas parte do charme para deixar a mente de um homem aflorar pelos caminhos que bem entendesse? Nunca saberia a resposta. Nem queria, de fato. Apenas desejava que ela chegasse logo.
Ele não era um homem de muitas palavras. Nunca fora um bom observador, nem tampouco sabia analisar qualquer tipo de comportamento. Mas tinha certeza que o que aquela mulher estava fazendo era para lhe provocar um colapso nervoso. Ela sabia que ele possuía a pontualidade inglesa, mas mesmo assim insistia em se atrasar. E vejam só, quase 20 minutos agora.
Por que mesmo ele a tinha convidado pra sair? Não tinham quase nada em comum, torciam para times rivais, gostavam de comidas diferentes e a música que ela ouvia era um lixo total. Ele coçou as têmporas lentamente. Deveria estar mesmo a beira de um ataque de loucura. Talvez fosse o fato de que ela o desafiasse sempre e como se não fosse suficiente ainda achava tempo pra irritá-lo com alguma bobagem. Sem contar o fato de que tinha uma facilidade absurda para lhe dizer não, quando outras pessoas possuiam uma dificuldade exorbitante para isso.
Era um homem perspicaz e convincente, tinha uma lábia enorme, as pessoas lhe diziam isso o tempo inteiro, mas nem era necessário ouvir de outros, ele tinha consciência disso. Não que se gabasse, porém não era de todo uma coisa ruim. E novamente se contradizia e achava sua resposta, só se atraia por ela porque não caiu em seu jogo. Cruzou as mãos apertando-as forte. Mas ele mudaria de nome de não conseguisse conquistar aquela mulher. Ela poderia lhe mostrar a indiferença inteira do mundo, mas não seria capaz de fazê-lo desistir assim tão fácil. E perder guerras não estava em seu plano.
Distraiu-se com a cabeça baixa e só então ouviu passos de salto alto se aproximarem. Levantou os olhos, para em seguida admirar-se de um sorriso franco e misterioso. Retribuiu com o melhor sorriso que tinha e levantou-se para puxar a cadeira para a moça.
- Quase meia hora atrasada - Ele sorriu cordialmente
- Deveria ter ido embora então, já que é tão impaciente assim - Ela sorriu maliciosa
- E perder essa vista? Não obrigado. Consigo me controlar um pouco - Retribuiu o sorriso.
Conversaram sobre as futilidades da vida e sobre a alma do negócio, não que fossem muito diferentes, mas a maioria das pessoas insistia em julgar que pessoas inteligentes só possuem conversas sérias e que exijam citações de grandes intelectuais. Ela sorria constantemente, ele observou. E gostava da sua risada despretenciosa. Trabalharia para que aquele olhar divertido fosse seu, afinal lutar nunca fora seu ponto fraco e conseguir o que queria também não.
Tiveram algumas pequenas irritações em poucos assuntos, mas hoje ele resolveu que isso não causaria maiores danos. Estava disposto a ceder e por Cristo! Como aquela mulher era bonita. Não aquela beleza que deixasse qualquer homem caindo aos seus pés, mas a beleza que ele admirava. Colocou a mão no queixo, para fazer charme e para admitir a si mesmo que estava se apaixonado. E que Deus o ajudasse nisso!
- Algum problema? - Ela parecia um pouco nervosa, sua tática havia dado certo, percebeu.
- Não, não. Só estou prestando atenção em você- Ele sorriu com o canto da boca.
- Han... Está tentando me conquistar, espertinho? - Ela insinuou com menos firmeza do que tencionava
- E se estiver?
- Eu não vou cair tão fácil na sua
- Veremos... - Ele sorriu presunçoso
- Veremos! - Ela sorriu levantando o copo num brinde.
Era mesmo fascinante seu jeito. Não se deixara intimidar por pouco mais do que cinco segundos. Estava encrencado, refletiu. Mas ele iria adiante e quando ela menos percebesse também estaria apaixonada por ele. O que ele não sabia, nem estava perto de imaginar, é que ela já caira no seu jogo há muito tempo. Tanto tempo quanto ele estava no dela.

Gabriela Castro Lima Aguiar

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