Cidadão de rótulo de cerveja


Já era madrugada, ele ainda estava no bar, bebendo sem ter noção de tempo e até mesmo de espaço. Sua mulher já lhe ligara diversas vezes e ele usava sempre a mesma desculpa, de que logo chegaria. Na quinta ligação, não se deu nem ao trabalho de atender ao telefone, arremessou-o do outro lado da rua e entrou em seu carro furioso.
Pelo caminho, com os vidros abertos, gritava e usava palavras de baixo calão para se referir à mulher. Seu carro cantava pneu a cada esquina que dobrava, não conseguia e nem tinha equilíbrio para andar em uma faixa só, nem respeitava placa ou sinal algum.
Chegou em casa fechando violentamente a porta, fato que acordou o bebê de seis meses, seu primeiro e único filho.Sua mulher, já irritada com toda aquela situação prontificou-se a discutir com o marido.Depois disso a única coisa que se houve é um barulho estrondoso e agudo, partindo do centro daquela pequena casa.
No outro dia todos os jornais da cidade noticiavam a frustração e revolta de um pai, que havia perdido a filha e por pouco não perdera o neto, por conta da embriaguez do genro.Todos se chocavam ao folhear nas páginas do jornal aquele crime bárbaro, mas o pior estava fato do acusado não se lembrar de nada e também estar inconsolável com a morte da sua família.
Se as pessoas tivessem mais consciência e mais respeito com a própria vida ao invés de se escrever crônicas com finais infelizes, para alertá-los dos milhares de problemas relacionados ao consumo exagerado do álcool, escreveria apenas crônicas com fatos simplórios e engraçados. Mas a partir do momento em que uma pessoa se torna apenas uma parte anexa de um rótulo de cerveja, é quase impossível descrever um final feliz.

GCASTROLIMAA.

Comentários

  1. Cidadão pra dar trabalho -.-'

    Adoro ler o que você escreve Gabriela! *__*

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