A mensagem
Dona Elza estava exausta. Cansada do
trabalho. Cansada da rotina. Cansada das brigas bobas em casa. Mas estava mais
cansada de si mesma, por não conseguir fazer algo realmente legal há algum tempo.
Enquanto girava a
maçaneta da porta, ao entrar em casa, perguntou-se quando foi a última vez em
que se divertiu de verdade. Sem pretensões e preocupações. Seu marido andava um
pouco ausente, não por querer, nem por maldade. Ele era assim, as vezes se
afastava só para pensar um pouco e ter o seu tempo sozinho. Todo mundo precisa
de espaço, não é mesmo?
Colocou sua pasta pesada
em cima da mesa e logo viu um bilhete, colocado em um envelope branco destinado
a ela. Sabia de quem era. Conhecia aquela letra até de trás para frente.
Pegou-o com receio do seu conteúdo e pôs-se a ler. Derramou uma lágrima no
final, mas respirou aliviada.
Seu marido, apesar de
toda a distância, e de todas as discussões dos últimos dias ainda continuava
lá. Ela sentia saudades do tempo em que os dois eram jovens e tinham muita
energia para qualquer coisa. Às vezes se perguntava o que teria acontecido com
eles, coisas normais de qualquer casamento, ela respondeu imediatamente. Mas
aquele rapaz ainda morava ali dentro, mesmo que ele mesmo não acreditasse
nisso.
João sempre fora uma
excelente pessoa. Tinha fascínio por literatura e arte. E tinha também um
coração sereno atrelado a uma paciência enorme. Seu único ponto fraco era a
insegurança. O medo sempre lhe tirara muitas coisas, por vezes, lhe tomara até
seus sorrisos transformando-os em lágrimas contidas ou em pensamentos que
ficavam reservados só para ele.
Entretanto, ele estava
melhorando... Dona Elza podia ver claramente o quanto ele estava diferente e
cada dia parecia confiar um pouco mais em si mesmo. Deveria ser o tempo o maior
responsável ou talvez fosse só a vontade de crescer. Ela sempre pensava que ele
não precisava ter tanto pavor assim do futuro, nem se cobrar tanto por coisas
tão pequenas. Mas não dizia nada, apenas oferecia um abraço ou melhor, o braço,
para que ele tentasse sair do seu poço fundo de incertezas.
Ela tinha se chateado com
as últimas discussões e chorado durante toda a semana. No bilhete, ele dizia
que passaria uma semana longe. Ela não aguentaria tanto tempo. Mas queria que
passasse devagar, para dar um tempo, para respirar. Sabia que aquele tempo era
mais para ele do que para ela.
Pegou seu celular e
enviou uma curta resposta à mensagem:
“Não
demore muito. Vou sentir sua falta. Mesmo quando estou chateada com você, eu
sinto sua falta. Claro que ainda temos muitos planos para o futuro, preciso que
você volte em breve para podermos cumpri-los. O amor é um verme resistente, ele
é capaz de sobreviver em quaisquer ambientes ou circunstâncias. Boa noite e fique bem.”
Respirou fundo. Na falta
do seu marido, abraçou a si mesma e garantiu-se de que tudo ficaria bem.
Gabriela Aguiar
Comentários
Postar um comentário