Ermitã
Era
o quinto livro que devorava em menos de uma semana. As páginas amareladas
serviam como alimento para sua alma faminta. Engolia cada letrinha com
desespero e para que não pudessem fugir.
Preenchia
todos os seus vazios e frustrações lendo qualquer história com o final feliz.
Por alguns momentos (enquanto estava lendo) podia ser qualquer personagem e
viver onde eles estivessem. E ela já tinha sido tanta coisa, até ladra de
famosas obras de arte na Itália... E ao mesmo tempo não havia sido nada, pelo
menos não de verdade.
Mas
não era hora de pensar sobre a sua vida. Estava lendo e nesse exato momento era
uma duquesa que vivia na Inglaterra há alguns séculos atrás. Alheia aos bens
materiais, apaixonada por um homem pobre e não queria casar-se com quem o seu
pai escolhera.
Ela
sorriu, não se casaria jamais. Não que detestasse romance, ela gostava, mas
tinha certeza de que não se casaria nunca. Talvez por escolha, talvez por ser
incompreendida pela maioria das pessoas (leiam-se todas).
Aos
27 anos, morando sozinha num apartamento pequeno, sua única paixão eram os
livros que ostentava em seu escritório (o maior cômodo do lar). Trabalhava como
secretária em uma empresa e nas horas livres lia livros. Tinha poucos amigos e
visitava a família em períodos natalinos. Era cercada de conhecimento e
solitária de pessoas. Uma ermitã, vivendo numa cabana de capas duras e folhas
amareladas.
Não
se incomodava. Não se sentia infeliz. Esquecia-se de tudo ao mergulhar dentro
de um livro. E ainda tinham tantas obras a serem lidas... Ela sim seria feliz
para sempre ou pelo menos até que durassem todas as histórias escritas do
mundo. Vivia por engano no mundo real.
Comentários
Postar um comentário