Ao acaso, ao destino
Estava atrasado. Odiava chegar atrasado
em qualquer compromisso que fosse, mas o trânsito da cidade estava caótico
devido à chuva que caía incessantemente desde o meio dia. Já eram quase 16
horas, deixara a jornalista esperando-o por mais de meia hora. Mas que boa
impressão daria para um empresário novo no ramo. Mais do que atrasado estava
impaciente. Tamborilou os dedos no volante do carro e respirou fundo. Adorava
chuva, mas hoje ela não estava lhe ajudando em nada.
Depois
de uns 15 minutos chegou ao local combinado, um restaurante de comidas típicas
da cidade. Nada mais apropriado, tendo em vista que sua empresa seria uma loja
de produtos regionais, nada alimentício, era artístico. Mas combinava com o
ambiente. Desceu do carro tão apressado que esqueceu-se por um segundo da
chuva. Além de atrasado e impaciente, agora estava ensopado. Maravilha!
Se
pudesse soltar fumaça, ele poderia jurar que estaria fazendo isso agora mesmo.
Empurrou a porta do restaurante com força. Seria pior do que qualquer vulcão em
atividade, poderiam apostar. Foi então que ele a viu. Estava sentada em uma
mesinha próximo a janela de vidro olhando a chuva distraidamente. Mexia em seu
cabelo longo e loiro, enquanto pensava em qualquer coisa que fosse. Ela não
parecia irritada, pelo menos isso, pensou. Parecia bonita... Muito bonita!
-
Sr Vinícius de Sampaio? – Ela estava falando com ele
-
Sim! Você é a Larissa?- Ele estendeu a mão para cumprimenta-la- Me perdoe pelo
atraso, o transito estava caótico e...
-
Sim, sou eu mesma. Não se preocupe, não tem problema – Apertou a mão dele.
Eles
sentaram-se a mesa e após os cumprimentos e apresentações formais, ela lhe
bombardeou com incessantes perguntas sobre a sua loja. Ele sabia responder
todas, é claro, mas algo no jeito dela o deixava totalmente desconcertado.
Nunca o consideraram tímido, mas talvez o jeito desinibido daquela mulher o
fizesse ficar um pouco retraído. Interessante, pensou. Não se lembrava de ter
visto ninguém falar com tamanha desenvoltura e nem tampouco fazer parecer como
se fossem velhos amigos conversando sobre a vida. Em alguns momentos, precisava
lembrar a si mesmo que aquilo era uma entrevista para um jornal local.
Seus
pensamentos tomaram rumos diferentes. O que será que ela estaria pensando dele?
Costumavam lhe dizer que ele era atraente. E ele era, de fato. Não era muito
alto, possuía o corpo esguio e rosto com traços fortes, mas que não lhe davam
uma aparência de sério. Seus cabelos eram cheios e negros, o que parecia
combinar com seus olhos verdes e arredondados.
-
Senhor? – Ela falou tirando-o da viagem em que estava.
-
Perdão! – Ele respondeu todo desengonçado, sacudindo a cabeça.
Então
ela sorriu. Um sorriso largo e estonteante. Parecia que todo o seu rosto se
enchia de brilho... Meu Deus! Ele teve certeza que com esse sorriso ela poderia
ganhar o mundo. Ele lhe daria o céu se ela pedisse com esse sorriso nos lábios.
Os lábios... Pareciam tão convidativos para um beijo...
-
Está tudo bem? – Ela assumiu uma expressão mais séria.
-
Sim. Só me chame de Vinícius, por favor. – Ele lhe devolveu com o melhor
sorriso que tinha e ela pareceu ficar envergonhada. Ele sorriu de satisfação,
não era o único que estava atraído.
-
Certo, Vinícius...
-
Gosto de você falando o meu nome- Ele foi ousado e essa resposta a fez corar.
Era desinibida, mas ao mesmo tempo tinha vergonha. Muito, muito interessante!
-
Eu... Bem, acho que não tenho mais nenhuma pergunta para fazer sobre a sua
empresa
-
E sobre mim? – Ele levantou uma sobrancelha demonstrando confiança.
-
Tenho muitas – Ela confessou e então sorriu e mexeu nos seus cabelos.
-
Se você continuar sorrindo desse jeito e mexendo no seu cabelo eu vou ter muita
dificuldade em me concentrar para responder – Respondeu incisivo.
-
Eu não vou deixar as coisas fáceis assim para você
-
Ótimo, porque eu tenho muitas perguntas para fazer também. E a primeira delas é
se você está livre amanhã à noite.
Ela
sorriu e ele teve a certeza de que a veria por um longo tempo. Vestida de
noiva, inclusive.
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