Esboço



Era um ato falho de rimar ao encontrar-se e subjugar-se novamente. Absorver todo aquele instante com goles demorados de uma soberba dócil. Não se acostumaria com novas circunstâncias ou com joguetes infiéis do destino. Nem tampouco desperdiçaria seu precioso tempo com tentativas frustradas de fazer-se de novo.
Recriar-se dava muito trabalho. Construir cada partícula esmiuçada do seu ser não era nem de longe uma visão agradável. Tornara-se aquilo por uma infinidade de acontecimentos e razões sem quaisquer explicações claras para subconscientes inférteis. Não era nem de longe uma visão agradável modificá-lo ou pelo menos fugia de todas as suas afáveis pretensões.

Encostou-se no estofado verde da cadeira, esticou suas pernas a fim de alongar-se e encontrar uma posição agradável. Colocou a mão sob o queixo e perdeu-se novamente. Estava refletindo sobre suas atitudes piegas, esperadas e mal planejadas. Fugia da rotina que submetia a sua inconstância a uma ferocidade quase imperceptível com o passar relapso das horas. A miúde erguera-se do nada e fizera de si o seu próprio lar. Convivia bem na sua permanente morada até que a chegada de uma intrusa lhe fez questionar-se o que antes era óbvio. Queria ele viver na sua reforçada solidão?

Gabriela Aguiar.

Comentários

  1. Perdido dentro de si... talvez aquilo não era uma solidão mas sim uma perda dentro de si mesmo cada reflexão, e aquilo o instigava a sempre querer se perder, se conhecer.

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