Querido Ulisses,



                Não sei como aconteceu, nem tampouco qual foi o motivo para que nos distanciássemos assim. Acredito que a culpa não tenha sido sua, nem minha. Do tempo talvez, mas por que responsabilizá-lo se ele é incapaz de voltar? Então o problema deve ter sido das circunstâncias. Mas também não vou julgá-las. Sou incapaz de saber exatamente quais foram.
                A verdade é que talvez não ajam culpas. Provavelmente existam arrependimentos, mas não estou tão convicta quando a isso. Afinal, coisas feitas de maneiras diferentes podem ter obtido um resultado melhor do que o esperado. Eu deveria lhe pedir desculpas pelas duas vezes que lhe ignorei, mas seria cinismo da minha parte dizer que não fiquei feliz. Porque fiquei por mim, por me mostrar que já não era tão importante assim. Lembre-se apenas de que quem começou foi você.
                Acho que no final de tudo eu não era tão boazinha quanto você pensava. E nem tão idiota como eu imaginava. Mas isso é um mérito de águas passadas que não movem estradas, opa! Moinhos. Eu poderia continuar com meus desaforos, sempre fui muito boa nisto. Entretanto esse joguinho de pedras para a lua cansou.
                Vim lhe dizer que de verdade eu sinto falta do que se foi. Dos risos fora de hora, das conversas sem sentido sobre Bob Marley depois de uns conhaques acima do nível são, das danças esquisitas e das escadas pretas. A ausência das palavras ditas e das bagagens sobre o Caribe deixaram um vazio enorme. Tão grande quanto o silêncio que habita as almas sem chão. Guardo isso com muito carinho, protegido de qualquer tempo, circunstância ou culpa. Provavelmente não existam mesmo.
                Acabei de ouvir uma voz rouca entoando “Welcome to the new age”. Sinto que fui convidada a voltar sutilmente ao mundo real. Só queria lhe dizer que lamento que tudo tenha se transformado assim, um mal necessário, você diria. Desejo que consiga provar suas teorias e que o mundo seja uma enorme bolha de realizações. Em soma de alegrias e gastas tristezas.


Devo me despedir agora.

Com amor,

                             T.S.


Gabriela Castro Lima Aguiar

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