Relatos sobre um longo caminho
Caminhei quase 6 horas
sem parar. Não sei o que doía mais, meu corpo ou minha mente. Também não tive
tempo para pensar sobre, mas sei que alguma coisa incomodava minha paz interior
e latejava em minha cabeça. Talvez meus pés doessem. Porém, se eu parasse ali
sentiria tudo com maior intensidade. Então resolvi caminhar até o meu limite
físico ou psicológico resolver estourar e mandar minha consciência ir as favas.
As marteladas do meu
coração acompanhavam o ir e vir dos meus pés que faziam um barulho
tranquilizante ao tocarem o solo. Nem sempre eles estiveram ali tão focados no
chão. Na verdade, nem sempre eu quis que estivessem ali. Eu preferia quando
passeavam pelas nuvens acompanhados da imaginação com uns sorrisos amarelos. As
passadas por hora diminuíam, por hora aumentavam sua velocidade. Um pique
descontínuo sem nada a perder. Não, não seguia nenhuma canção exatamente ou
talvez seguisse várias.
Pelo caminho encontrei
algumas pessoas com rostos sem muito foco, eles pareciam ter bandeiras na face.
Aparentemente tinham cores estranhas de verde, amarelo e branco. Eu nunca tinha
visto isso antes. Mas a minha atenção não ficou no só nisso. Por algumas vezes
durante o trajeto pude ouvir coros. Vozes interessadas e vozes que nem sabiam
porque estavam trilhando aquela rua. Estavam ali apenas para dizer que
concordavam com os outros, mesmo que não dominassem o assunto. Não sei se isso
seria julgado certo pelos críticos mais ferozes, nem pensei nisso de fato. Só
achei legal ver tantas pessoas acompanhando aquela caminhada, debaixo do sol do
Equador e com um objetivo em comum.
Minha cabeça perdeu o
pique dos pensamentos por alguns segundos. Ao atravessar uma ponte e ao ver o pôr
do sol. Meus pés que tanto caminharam, pararam para acompanhar novamente minha
cabeça. Uma cena bonita. Um rio, o sol se pondo, um barquinho bem simples lá no
meio e uma construção humana ao fundo. Olhei para trás e vi então uma cena mais
linda, uma maré de gente descendo a rua, cantando alguma coisa parecida com um
convite mesclado com um som patriota. Estremeci.
Depois de um choque
inicial voltei a caminhar. Os passos ficaram mais lentos, sinais de cansaço
físico. Mas minha mente iria continuar. Estava a mil com esse novo incentivo.
As luzes da cidade se acendiam, as luzes dos carros refletiam e tudo parecia
ter vida própria. A causa era justa e disposição para andar todo aquele percurso
também. E assim fui até não aguentar mais. Acompanhando os coros e uns gritos
sobre coisas erradas no país. Eram sobre leis, sobre pessoas, aliás, sobre a
falta de caráter das pessoas. E sim. Assim como todos os outros, eu queria
mudar tudo aquilo.
Foi por esse motivo de
mudança que caminhei tanto. E por esse mesmo objetivo que vi tanta gente na
rua, algumas mais engajadas outras mais frívolas. Mas tinham um interesse em
comum. Uma caminho que unia, que permitia a expressão. E achei bonito manter os
pés no chão, achei tão interessante que me esqueci por uns breves segundos que
aquilo veio de um voo. De um sonho que agora saia marchando das ideais.
Gabriela Castro Lima Aguiar
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