Terceira sutileza
Definiam-o como gentleman, uma mistura um pouco medieval de cavalheirismo com um certo ar de intelectualidade. Moreno, aproximadamente 1,80m e discreto. Sempre pensava três, exatas três vezes, antes de agir, esse talvez fosse seu maior problema. Seu signo era alguma coisa com ascendente em capricórnio.
Elogiava as mulheres, com palavras que nenhum homem da sua idade ousaria pronunciar, elas provinham provavelmente de alguma literatura que o prendia. Mas quando se tratava especificamente de uma moça, todos os versos lhe sumiam da cabeça e a voz se tornava falha e o pior de tudo, fria.
Sara era seu amor secreto desde que a vira pela terceira vez, estranha conhecidência de números, talvez se apaixonara por ela justamente por pensar três vezes nisto. Ora pois, no terceiro dia que a vira com um vestinho azul comportado lendo livros de Machado de Assis, tinha certeza que era a ela que queria.
A observava quando podia, prestando atenção em todos os detalhes, coisas que raramente homens fazem. Sabia seus gostos musicais, seus autores e filmes preferidos, descobrira isso em longas conversas, nas quais nunca tivera coragem de falar algo mais que apenas bons amigos recitam. E consigo pensava que o alimento para tanto amor fosse o platonismo.
Imaginava ensadecidamente o dia que teria coragem suficiente para contar-lhe tudo que sentia, desde o formigamento na ponta dos dedos quando em seus cabelos tocavam, até o compasso enfurecido do seu coração, por tê-la ao seu lado. Talvez no terceiro encontro... Talvez no terceiro beijo...
Por: Gabriela Castro Lima Aguiar
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